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  1. O rocambole, de Davi Arrigucci Jr.

    quinta-feira, 31 de julho de 2014


    Título: O rocambole
    Autor: Davi Arrigucci Jr.
    Ilustrador:  Paulo Pasta
    Editora: Cosac Naify
    Número de páginas: 120
    Ano de publicação: 2005

    ***

    Vou ser franca e direta: não gostei desse livro. Apesar disso, eu o li duas vezes. Explico: quando terminei de ler, não tive tempo nem vontade de escrever sobre ele, então se passaram meses e eu lembrava apenas vagamente da história (lembrava que tinha um rocambole gostoso :). Por isso precisei ler de novo.

    Rocambole me lembrou de algo que um livreiro comentou uma vez: que os livros da editora Cosac Naify tinham uma "embalagem" muito bonita para disfarçar a falta de conteúdo ou a qualidade questionável do texto. Ainda não consigo concluir o quanto disso é verdade, mas, por enquanto, tenho essa impressão quando leio livros de autores nacionais dessa editora. Os livros traduzidos (pelo menos os que li até o momento), em geral, conseguem combinar um belo projeto gráfico e um bom conteúdo.

    No caso de Rocambole, fiquei bastante frustrada. O projeto gráfico é bonito, a qualidade da impressão e do papel é boa, as pinturas do Paulo Pasta que ilustram a história são bonitas (apesar de a pintura da capa parecer mais um sushi e não um rocambole), só que a história não ajuda.


    A princípio, o enredo parece bastante interessante: Mariana, ex-namorada de Lourenço, vai morar no "casarão dos Heyst" com Dona Leontina, que seria sua sogra, Dona Helga, irmã mais nova de Dona Leontina, e Josefina, a empregada, depois que Lourenço se suicida. É uma situação curiosa, pois Dona Leontina era contra o casamento do filho com Mariana. Apesar desse início instigante ("por que Mariana aceitou morar na casa de Dona Leontina?", "por que Lourenço se matou?", "por que Dona Leontina convidou Mariana para morar no casarão se não gostava dela e não queria que ela se casasse com o filho?", "como era o relacionamento dos dois antes da tragédia?" etc.), tive a impressão de que a história se perde e o autor não consegue aprofundar nenhum personagem.


    No capítulo 3, somos introduzidos a Spacca, um garoto que gostava de passarinhos e de teatro; ele é descendente de italianos e morava com os pais ao lado do casarão dos Heyst (Dona Leontina era viúva de um alemão com esse sobrenome). No capítulo 4, a história de Spacca e seu grupo de amigos é narrada em primeira pessoa por um narrador não identificado, provavelmente um dos amigos de Spacca. Já que o narrador não se identifica e não tem importância relevante na trama, para mim não fez sentido essa mudança de narrador. Esse capítulo, aliás, é o mais tedioso do livro e parece interminável. No capítulo 5, a narração volta para terceira pessoa e ficamos sabendo que Spacca tem uma queda por Mariana e fica tentando espioná-la.


    Uma das partes legais que remete ao título é o fato de Dona Helga e Josefina gostarem de cozinhar e fazem isso em uma cozinha instalada em um tipo de porão do casarão, pois ali Dona Leontina (aparentemente uma velha chata e ranzinza) não pisava. E dali saíam muitas delícias preparadas pelas duas mulheres, incluindo goiabada e rocambole.


    Dona Fiammetta, mãe de Spacca, gostava muito do rocambole feito pelas vizinhas e um dia Mariana foi levar o doce pessoalmente, para o encanto de Dona Fiammetta.

    O rocambole tinha ficado pronto ainda de manhã e era dos mais bonitos que fizera; modéstia à parte, uma obra-prima, pois não resistira e provara, uma fatiazinha de nada, da pontinha que não se notava, pois também recortou um pedacinho do lado oposto, para não dar na vista. Também, com todo aquele recheio, feito só de goiabas madurinhas e firmes de tão sadias, dava gosto de ver. A goiabada estava mesmo um primor quando foi fazer o recheio [...]
    Dispôs o rolo bem enroladinho numa travessa portuguesa branca toda branca, polvilhou-o por cima com açúcar de confeiteiro e marcou-o a ferro em brasa com várias listras pretas no lombo. Era de fato um bichão, ali deitado. Dona Fiammetta ia apreciar tudo, pois notava como ela tinha bom gosto e sabia reconhecer um trabalho bem-feito. Embrulhou-o, por fim, em papel-manteiga e deixou-o à espera de Mariana, que ia fazer a visita de tarde pela hora do café, como uma surpresa para a vizinha.

    [SPOILER!]

    O fim é insosso: Mariana se desentende com Dona Leontina (que provavelmente deduziu que ela estava de olho no vizinho, Spacca) e vai embora para a casa de uma parente distante que morava em Poços de Caldas, Minas Gerais. Alguns meses depois, Spacca também deixa a casa da mãe, que morre de saudades dele. Fim.


    Alguns leitores podem alegar que o romance não tinha muitas pretensões além de mostrar as diferenças culturais entre imigrantes alemães, imigrantes italianos e brasileiros. Tudo bem, mas os personagens não precisavam ser tão rasos.

    Não vejo esse livro como algo marcante de nossa literatura e imagino que não ficará para a posteridade.

    Apesar de ter me frustrado com a leitura, ela me inspirou a fazer geleia de goiaba e rocambole pela primeira vez. Gosto muito das duas coisas e não sabia que era tão simples de fazer.

    ***

    ROCAMBOLE COM GELEIA DE GOIABA

    Geleia de goiaba

    Ingredientes:
    2 goiabas grandes [usei 4 goiabas porque queria que sobrasse geleia]
    4 colheres (sopa) de açúcar (ou adoce a gosto)
    um pouco de água

    Modo de preparo:
    Descasque as goiabas, pique-as e bata no liquidificador com um pouco de água. Coe sobre uma panela, acrescente o açúcar e cozinhe em fogo médio, mexendo sempre. 


     Depois de uns 30 minutos, a mistura atinge o ponto de geleia. Tire do fogo e reserve.


    Obs.: Como alternativa a esta geleia, é possível usar goiabada industrializada. Basta picar cerca de 3/4 de xícara (chá) de goiabada em uma vasilha que pode ir ao micro-ondas, acrescentar um pouco de água e aquecer por 1 minuto. Misture e aqueça por mais 40 segundos para que os pedaços de goiabada se desfaçam completamente. Se for usar goiabada industrializada, diminua a quantidade de açúcar na massa, pois esse tipo de goiabada normalmente é MUITO doce.

    Massa*

    Ingredientes:
    3 claras em neve 
    3 gemas
    1/2 xícara (chá) de água
    1 xícara (chá) de açúcar
    1 xícara (chá) de farinha de trigo
    1 colher (chá) de fermento em pó

    * fiz 2/3 desta receita e usei uma fôrma de 21x30 cm.

    Modo de preparo:
    Bata as clara em neve, acrescente as gemas.


    Depois, acrescente a água, o açúcar, a farinha (peneirei o açúcar e a farinha para evitar empelotamento) e, por último, o fermento.


    Coloque a massa em uma fôrma untada (usei uma fôrma 21x30 cm) e leve ao forno preaquecido.


    Quando a parte de cima estiver dourada, espete um palito de dente para verificar se a massa está completamente assada. (Se o palito sair seco, o pão de ló está pronto.)


    Assim que tirar do forno, desenforme sobre um pano de prato umedecido e polvilhado com açúcar. Espalhe a geleia de goiaba (ou outro recheio de sua preferência) e enrole.



    Meu rocambole ficou assim:


    :)

    O restante da geleia comi com bolachas e torradas. É uma delícia!