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  1. Um amor, uma valise e cogumelos

    quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


    Título: A valise do professor
    Título original: Sensei no Kaban
    Autora: Hiromi Kawakami
    Tradutor: Jefferson José Teixeira
    Editora: Estação Liberdade (ver site)
    Número de páginas: 228
    Ano de publicação no Brasil: 2012

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    Ideograma Sensei no Kaban [A valise do professor]

    Como lidar com um amor impossível? Lutando por ele mesmo assim? Desistindo? Se resignando? Se declarando? Ou simplesmente tentando esquecer?

    Este livro da Hiromi Kawakami é um pouco sobre isso, sobre o amor "impossível" entre uma mulher de trinta e tantos anos com um ex-professor do colégio, trinta anos mais velho que ela, mas também sobre o extraordinário dentro do cotidiano, sobre cultura e culinária japonesa e relações humanas em grandes metrópoles, além de um toque de sensualidade.

    O encontro entre Tsukiko e o "professor", como ela o chama, primeiro por não se lembrar de seu nome e, depois, talvez por costume, se dá em um bar, onde ambos entram e coincidentemente pedem os mesmos pratos. Ele se lembra da aluna displicente que ela foi e, embora ela não se lembre do nome do professor, aos poucos, se aproximam, passam a se encontrar vez ou outra no bar para comer e beber juntos. Ao longo do livro, há várias referências a pratos da culinária japonesa (alho-porro em salmoura, tiras de raiz de lótus cozidas, feijão-soja com atum, carne de porco com picles coreano, sopa de cogumelos, trutas, yakissoba, fondue de polvo, haliotes, mexilhões) e dois capítulos são dedicados à colheita de cogumelos em um bosque e à preparação de uma sopa com eles no local.

    O convite para a colheita de cogumelos é feita por Satoru, o dono do bar onde Tsukiko e o professor frequentam, e os dois aceitam. Posteriormente, a eles se junta um primo de Satoru chamado Toru.

    "Com nós quatro comendo, a sopa de cogumelos aparentemente volumosa acabou num piscar de olhos. A mistura de muitas espécies de cogumelos dava-lhe um sabor inigualável. Foi o professor quem se serviu desse adjetivo. No meio da conversa, ele disse de repente:
    - Satoru, é um aroma inigualável."

    No capítulo "Colheita de cogumelos - 2", há uma discussão meio engraçada sobre cogumelos venenosos e, nessa parte, também nos é revelado um episódio curioso sobre a ex-esposa do professor, que um dia encontrou e ingeriu "cogumelos do riso", que tem propriedades alucinógenas.

    Depois de um tempo, Tsukiko se espanta ao perceber que o prazer de ter a companhia do professor havia se transformado em amor. E sofre por, aparentemente, não ser correspondida. Apesar disso, tenta a todo custo não criar expectativas. O lado racional muitas vezes demonstra estar no comando.

    "Um relacionamento superficial. Decidi que seria assim. Sóbrio, longo, sem exigências. Por mais que tente me aproximar dele, ele não me dá chance. Parece existir entre nós um muro de ar. À primeira vista tão leve a ponto de não se poder segurá-lo e, quando contraído, acaba repelindo tudo. Um muro de ar."

    Além do professor, um dos únicos contatos de Tsukiko é um "pretendente" chamado Kojima, com quem ela havia saído nos tempos de colégio e volta a encontrar, mas, por vezes, quando está com ele, ela pensa no professor, por isso o relacionamento deles não evolui.

    Além da história dos personagens principais, talvez solitários metropolitanos em busca de companhia e algum tipo de amor, está a beleza da narração do cotidiano. Kawakami conseguiu prender minha atenção, narrando de um jeito peculiar ações banais, como ir para um bar e pedir comida, percorrer uma feira livre, caminhar na rua observando a lua, apreciar as cerejeiras em flor, conversar sobre amenidades. Isso para mim é arte: narrar as banalidade do dia a dia de um jeito muito interessante. Se eu pudesse escolher, escolheria ter um estilo de escrita assim.

    A "valise" do título não é à toa. O professor realmente carrega uma valise para todo lugar que vai e ela também é lembrada no fim do livro.

    Hiromi Kawakami nasceu em Tóquio em 1958 e ganhou vários prêmios literários, incluindo o Prêmio Tanizaki (um dos mais importantes do Japão) de 2001 por este livro.

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    Missoshiru com shimeji e shiitake

     
    Ingredientes:
    1 1/2 de água
    1 pacote de shimeji
    1 pacote de shiitake
    1 pacote de tofu
    6 moti (bolinhos de arroz)
    1 pacote de hondashi (aproximadamente 10g)
    3 colheres de missô (pasta de soja)
    1 xícara de cebolinha picada
    Aji-no-moto e sal a gosto

     
    Modo de preparo:
    Ferva a água, acrescente o missô e o hondashi, mexendo bem para dissolver o missô. Corte o shiitake em tiras...


    ... e separe os ramos do shimeji, colocando-os em seguida no caldo. Acrescente também o tofu cortado em cubos e a cebolinha picada. Por último, o moti cortado em pedaços. Se achar necessário, acrescente Aji-no-moto e sal.


    Observações:

    1. O shimeji e o shiitake foram comprados em um Pão de Açúcar; gosto da marca Nayumi (ver site), porque a qualidade dos cogumelos é boa, mas acho que eles não são distribuídos fora de São Paulo. O tofu foi comprado em uma loja de produtos orientais. O missô caseiro e o hondashi foram doados pela minha mãe, mas são facilmente encontrados no Pão de Açúcar ou lojas de produtos orientais. O moti caseiro também foi doado pela minha mãe, que comprou um pacote com 12 unidades na feira de domingo em uma banca cujos donos são descendentes de japoneses - mas isso tem para comprar em lojas de produtos orientais. Se estiver em São Paulo, recomendo a loja Marukai, que fica na rua Galvão Bueno, perto da estação de metrô Liberdade.

    2. Creio que a principal forma de se comer moti seja assando-o em uma frigideira, em fogo baixo, e depois misturando-o ao molho com shoyu, açúcar e Aji-no-moto. Eu cresci comendo isso:



    3. A editora Estação Liberdade também publicou o livro Quinquilharias Nakano, da mesma autora, em 2010 e eu quero ler!

    4. Este post não foi patrocinado. Não falo bem do que e de quem não gosto por dinheiro nem presentes.