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  1. Na Prisão - disciplina e comida no Japão

    sábado, 31 de maio de 2014

    [sobrecapa]

    Título: Na Prisão
    Título original: Keimusho no naka
    Autor e quadrinista: Kazuichi Hanawa
    Tradutora: Drik Sada
    Editora: Conrad
    Número de páginas: 248
    Ano de publicação no Brasil: 2005

    ***

    Nesse relato autobiográfico, Kazuichi Hanawa, quadrinista underground japonês, relata o dia a dia surpreendente em uma prisão japonesa.

     [capa]

    Em 1994, Hanawa foi preso por porte ilegal de arma, sendo condenado à prisão em regime fechado em uma penitenciária de Hokkaido (norte do Japão), onde permaneceu por três anos.

    Eu já havia lido sobre instituições japonesas para menores infratores, sobre a rigidez com que são tratados e a disciplina que precisam ter durante sua passagem por lá. Lembro que uma das coisas que me impressionou sobre essas instituições foi que os jovens precisam manter um diário, onde escrevem sobre o dia a dia e também é uma oportunidade de refletirem sobre suas próprias vidas.

    Ao contrário do que acontece nas instituições para menores infratores, nas prisões japonesas não é obrigatório manter um diário (e talvez nem permitido) e, pelo que o crítico literário Tomohide Kure escreveu no préfácio, nem era permitido que os presos desenhassem - portanto, os desenhos e relatos de Hanawa foram escritos e desenhados posteriormente, de memória.

     [clique na foto para ampliar]

    Um dos aspectos mais interessantes dessa HQ é a comida. Quando pensamos em comida em prisões, logo imaginamos uma "lavagem" servida de qualquer jeito àqueles que, por seus crimes, talvez não mereçam nada de bom, incluindo uma refeição digna (e até o autor chega a comentar algo nesse sentido). No entanto, a comida servida na prisão onde Hanawa ficou era incrivelmente apetitosa e bem preparada, o que dava muito prazer aos prisioneiros.


    Será que é justo viver tão bem depois de ter cometido um crime?

    As descrições sobre o cardápio e as refeições são constantes ao longo da HQ, e os pratos descritos (preparados e distribuídos pelos próprios presos designados) são de dar água na boca.



     No último dia do ano, é servida uma refeição muito farta e especial:


    E no almoço do dia 1º de janeiro (Ano-Novo, uma data muito significativa para os japoneses), os presos também recebem uma refeição caprichada:


    Apesar de se tratar de criminosos, eles são tratados com dignidade - têm refeições dignas e as celas são ambientes também dignos (não são depósitos de seres humanos como acontece no Brasil, por exemplo), que eles próprios são obrigados a manter limpos e organizados.


    Outra coisa que chama muito a atenção é a disciplina cobrada dos presos. Todos são obrigados a se comportar bem, a trabalhar, a limpar e organizar suas próprias coisas; para praticamente tudo, é preciso pedir permissão para um guarda (como para ir ao banheiro ou pegar um objeto que o preso deixou cair durante a jornada de trabalho), e também não é permitido que os presos conversem entre si na maior parte do tempo.

     

    Imagino que seja mais difícil haver corrupção e sistemas de "proteção" dentro do sistema carcerário japonês se comparado com o sistema brasileiro. Devem existir pessoas corruptas, é claro, como em todo lugar, mas o próprio presídio parece não dar muitas brechas para isso, pois todos os presos são tratados de forma igualitária, usam o mesmo tipo de uniforme e recebem quantidades iguais de comida (sendo estas diferenciadas apenas quando os presos exercem trabalhos mais braçais e têm direito a um pouco mais de comida). Aparentemente, o sistema carcerário funciona bem, pois tudo é muito organizado e "justo".


    Acima, uma cena que ilustra a que ponto chega a organização dentro do sistema carcerário japonês: durante a jornada de trabalho, o preso, depois de autorizado a ir ao banheiro, pega uma placa de madeira vermelha (indicando que ele vai fazer cocô) ou preta (indicando que vai fazer xixi).

    É uma leitura que vale muito a pena.

    Agradeço à Lana pela indicação de leitura.

    ***

    Kare raisu ("Curry Rice")

    Kare raisu ["carê ráissu"] é um cozido de carne e legumes ao molho curry, servido com gohan (arroz branco japonês). É delicioso e bem fácil de fazer!


    Ingredientes:

    350 g de carne bovina cortada em tiras ou em cubos (pode ser alcatra ou coxão mole - nessa receita eu usei filé mignon, porque já vinha cortada em cubos e achei mais prático)
    150 g de vagem
    2 cenouras médias
    2 batatas médias
    2 mandioquinhas médias (na receita original não vai, mas eu gosto de usar)
    1 cebola média
    curry em tablete (serão usadas 3 partes)
    açúcar e sal a gosto
    maisena para engrossar
    um pouco de manteiga



    Modo de preparo:

    Picar a carne em cubos ou em tiras e temperar a gosto (costumo usar um pouco de vinho tinto e tempero de alho pronto ou vinho tinto e um pouco de sal e Aji-no-moto). 

    Picar os vegetais em cubos e a cebola de forma irregular. Note que as batatas devem ser mantidas na água depois de cortadas, para não oxidar (não ficar escuras).

    Derreter a manteiga e fritar a cebola e, depois, adicionar a carne e fritar.


    Depois que a carne estiver frita, acrescentar os vegetais picados e água fervente até cobrir todos os ingredientes.


    Tampar a panela e deixar cozinhando até o vegetais ficarem macios.

    Depois disso, acrescentar três tabletes de curry e mexer até dissolver.


    Na foto acima não dá para ver, mas nesse pacote de curry, há cinco tabletes. Comprei o curry mais suave que existe dessa marca (Golden Curry), mas também há outros tipos, mais apimentados. O da caixinha verde (levemente apimentado) também é bom.


    Acrescentar um pouco de açúcar, caso goste de uma comida levemente adocicada. E um pouco de sal, caso necessário.

    Por último, dissolver uma colher de sopa de maisena em um pouco de água em temperatura ambiente, misturar e acrescentar aos outros ingredientes. Mexer até o caldo engrossar.

    Depois é só servir com arroz branco!




  2. O som da montanha, de Kawabata

    sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

    Título: O som da montanha
    Título original: Yama no oto
    Autor: Yasunari Kawabata
    Tradutora: Meiko Shimon
    Editora: Estação Liberdade
    Número de páginas: 344
    Publicação no Brasil: 2009


    O livro veio com um bonito marcador do próprio livro:


     ***
    Quando o som parou, ele se sentiu aterrorizado. Teve calafrios ao imaginar que talvez fosse o prenúncio de sua morte.

    Shingo Ogata é quem ouve o som da montanha. Ele é o patriarca sexagenário de uma família que passa por momentos de turbulência: o filho, Shuichi, arranja uma amante e despreza a esposa, Kikuko, que também mora com os sogros; enquanto a filha, Fusako, está se separando de um marido viciado em drogas e provavelmente traficante, que acaba indo morar com as filhas pequenas na casa dos pais.

    Enquanto pressente a morte chegando, Shingo reflete sobre algumas frustrações ao longo da vida: era apaixonado pela bela irmã mais velha da esposa, que havia se casado com outro homem e morreu muito jovem; acabou casando-se com Yasuko, que não era muito graciosa, mas tinha a expectativa de gerar uma filha tão bela quanto a cunhada, o que não aconteceu - Fusako, aos olhos de Shingo, não era bela e não tinha modos, mas ainda tinha a expectativa de que uma de suas netas desenvolvesse algum tipo de beleza; pensa que talvez não tenha criado bem os filhos, principalmente Shuichi, que parece ter um sério desvio de caráter - apesar de pai e filho trabalharem na mesma empresa, em Tóquio, o filho não volta para casa com o pai, pois vai dançar em bailes com a secretária do pai ou encontrar a amante.

    Devido à idade, Shingo se esquece com facilidade de fatos corriqueiros, mas recorre principalmente à esposa, à Kikuko e à secretária, que o ajudam a lembrar. No último capítulo, compartilhamos um pouco da angústia do patriarca: em uma manhã, enquanto se preparava para trabalhar, não se lembra mais de como fazer o nó da gravata, embora tenha feito isso ao longo de quarenta anos, Kikuko tenta ajudá-lo, mas não consegue e acaba chamando a sogra.

    Publicado em 1954, O som da montanha traz características dos anos do Japão pós-guerra, quando o país passa por um período de "ocidentalização": Shingo usa terno para trabalhar, mas kimono em casa; as mulheres estão, aparentemente, se tornando mais independentes (várias vestem roupas ocidentais e trabalham fora, como a secretária de Shingo); no capítulo "O jardim da capital", Kikuko aparece ouvindo Les sylphides, de Chopin; a separação de casais não parece ser um tabu; o uso de aparelhos  como aspirador de pó e barbeador elétrico.

    Yasunari Kawabata

    No mesmo ano de publicação do livro, o diretor Mikio Naruse adaptou-o para o cinema. Vi o filme, lançado recentemente em uma coleção da Folha, "Grandes livros no cinema", mas achei o ritmo um pouco monótono. Para quem não leu o livro, ver o filme talvez seja entediante. O final é diferente do livro, mas igualmente plausível.

    Kikuko e Suichi na capa

    Uma das características da trama que fica muito mais sutil no filme é a ambiguidade da relação entre Shingo e a nora. No livro há uma tensão que permeia toda a narrativa, pois Shingo a vê tanto como uma jovem filha que precisa de ajuda e proteção (que o marido não lhe proporciona) quanto uma mulher bela e amorosa que lhe provoca desejos sensuais (seu cheiro e a maneira como se movimenta, por exemplo). Essa atitude provoca um certo ciúmes em Fusako, filha de Shingo, que uma vez diz explicitamente que o pai trata melhor a nora que ela própria.

     Kikuko e o sogro observam um girassol na casa de vizinhos

     Kikuko com os sogros, Yasuko e Shingo

    Kikuko também apresenta certa ambiguidade, demonstrando um imenso carinho pelo sogro. No capítulo "O jardim da capital", Kikuko convida Shingo para um passeio e uma conversa no parque Shinjuku Gyoen. Ela estava passando alguns dias na casa dos pais, para restabelecer a saúde, mas queria voltar para a casa dos sogros em Kamakura, nas cercanias de Tóquio, e estava sem jeito.


    Shinjuku Gyoen (foto tirada daqui)

    Shingo e Kikuko entraram no gramado e andaram entre os casais em encontro amoroso, mas ninguém deu atenção a eles. Shingo procurou passar longe desses casais.
    No entanto, o que Kikuko estaria pensando? Não eram nada mais do que um velho sogro e a jovem nora que vieram ao parque, mas Shingo não conseguira se adaptar à situação.
    Não dera importância ao telefonema de Kikuko, que marcou o encontro no Shinjuku Gyoen, mas agora que estava ali achava algo estranho.
    ...

    - Se você tem algo a me contar, antes de voltar para casa...
    - Para o senhor? Tenho tanta coisa que gostaria de lhe dizer, mas...


    Ao mesmo tempo que faz um balanço de sua vida e percebe que está, aos poucos, se desligando da vida e se afastando de momentos presentes, Shingo observa a beleza da natureza, que permanecerá inalterada, mesmo quando ele já tiver partido.

    ***

    Somen (macarrão gelado)

    No livro alguns pratos são citados, mas não o somen. Apesar disso, escolhi fazer essa receita, pois temos os dias de verão têm sido extremamente quentes e esse prato gelado combina perfeitamente com o clima. Incrementei a receita com ovos - na receita "tradicional", eles não são usados.



    Ingredientes:

    1 pacote de macarrão para somen (400 g)
    1/2 pacote de kamaboko (massa processada de peixe)
    1/2 pacote de tikuá (massa processada de peixe em formato circular com um furo no centro)
    2 pacotes pequenos de katsuo (peixe seco ralado)
    1 envelope de hondashi
    2 ovos fritos com um pouco de sal, açúcar e Aji-no-moto e cortados em tiras bem finas
    6 colheres (sopa) de shoyu 
    1 pitada de Aji-no-moto
    3 colheres (sopa) de saquê
    250 ml de água para o molho
    cebolinha a gosto
    gengibre ralado a gosto
    Folhas de nori (algas marinha) cortadas em tiras pequenas


    Na embalagem está escrito "Somen" em hiragana :)

    Katsuo (peixe seco ralado)



    Modo de preparo:

    Cozinhar o macarrão por cerca de 3 minutos (como os fios do macarrão são finos, ele cozinha bem rápido), escorrer em água fria e, para mantê-lo gelado, pode-se misturar algumas pedras de gelo a ele.




    Para o molho, misturar a água, o shoyu, o saquê, o katsuo, o hondashi e o Aji-no-moto e deixar ferver. [Também acrescentei um pouco de açúcar nesse molho, para suavizar o gosto do shoyu.] Depois, colocar o molho na geladeira.


    Enquanto isso, preparar e cortar os demais ingredientes.


    Depois, é só colocar o macarrão, o molho e os demais ingredientes em uma tigela (a tigela japonesa apropriada se chama tchawan).



    いただきます.
    Itadakimasu!

  3. Um amor, uma valise e cogumelos

    quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


    Título: A valise do professor
    Título original: Sensei no Kaban
    Autora: Hiromi Kawakami
    Tradutor: Jefferson José Teixeira
    Editora: Estação Liberdade (ver site)
    Número de páginas: 228
    Ano de publicação no Brasil: 2012

    ***
    Ideograma Sensei no Kaban [A valise do professor]

    Como lidar com um amor impossível? Lutando por ele mesmo assim? Desistindo? Se resignando? Se declarando? Ou simplesmente tentando esquecer?

    Este livro da Hiromi Kawakami é um pouco sobre isso, sobre o amor "impossível" entre uma mulher de trinta e tantos anos com um ex-professor do colégio, trinta anos mais velho que ela, mas também sobre o extraordinário dentro do cotidiano, sobre cultura e culinária japonesa e relações humanas em grandes metrópoles, além de um toque de sensualidade.

    O encontro entre Tsukiko e o "professor", como ela o chama, primeiro por não se lembrar de seu nome e, depois, talvez por costume, se dá em um bar, onde ambos entram e coincidentemente pedem os mesmos pratos. Ele se lembra da aluna displicente que ela foi e, embora ela não se lembre do nome do professor, aos poucos, se aproximam, passam a se encontrar vez ou outra no bar para comer e beber juntos. Ao longo do livro, há várias referências a pratos da culinária japonesa (alho-porro em salmoura, tiras de raiz de lótus cozidas, feijão-soja com atum, carne de porco com picles coreano, sopa de cogumelos, trutas, yakissoba, fondue de polvo, haliotes, mexilhões) e dois capítulos são dedicados à colheita de cogumelos em um bosque e à preparação de uma sopa com eles no local.

    O convite para a colheita de cogumelos é feita por Satoru, o dono do bar onde Tsukiko e o professor frequentam, e os dois aceitam. Posteriormente, a eles se junta um primo de Satoru chamado Toru.

    "Com nós quatro comendo, a sopa de cogumelos aparentemente volumosa acabou num piscar de olhos. A mistura de muitas espécies de cogumelos dava-lhe um sabor inigualável. Foi o professor quem se serviu desse adjetivo. No meio da conversa, ele disse de repente:
    - Satoru, é um aroma inigualável."

    No capítulo "Colheita de cogumelos - 2", há uma discussão meio engraçada sobre cogumelos venenosos e, nessa parte, também nos é revelado um episódio curioso sobre a ex-esposa do professor, que um dia encontrou e ingeriu "cogumelos do riso", que tem propriedades alucinógenas.

    Depois de um tempo, Tsukiko se espanta ao perceber que o prazer de ter a companhia do professor havia se transformado em amor. E sofre por, aparentemente, não ser correspondida. Apesar disso, tenta a todo custo não criar expectativas. O lado racional muitas vezes demonstra estar no comando.

    "Um relacionamento superficial. Decidi que seria assim. Sóbrio, longo, sem exigências. Por mais que tente me aproximar dele, ele não me dá chance. Parece existir entre nós um muro de ar. À primeira vista tão leve a ponto de não se poder segurá-lo e, quando contraído, acaba repelindo tudo. Um muro de ar."

    Além do professor, um dos únicos contatos de Tsukiko é um "pretendente" chamado Kojima, com quem ela havia saído nos tempos de colégio e volta a encontrar, mas, por vezes, quando está com ele, ela pensa no professor, por isso o relacionamento deles não evolui.

    Além da história dos personagens principais, talvez solitários metropolitanos em busca de companhia e algum tipo de amor, está a beleza da narração do cotidiano. Kawakami conseguiu prender minha atenção, narrando de um jeito peculiar ações banais, como ir para um bar e pedir comida, percorrer uma feira livre, caminhar na rua observando a lua, apreciar as cerejeiras em flor, conversar sobre amenidades. Isso para mim é arte: narrar as banalidade do dia a dia de um jeito muito interessante. Se eu pudesse escolher, escolheria ter um estilo de escrita assim.

    A "valise" do título não é à toa. O professor realmente carrega uma valise para todo lugar que vai e ela também é lembrada no fim do livro.

    Hiromi Kawakami nasceu em Tóquio em 1958 e ganhou vários prêmios literários, incluindo o Prêmio Tanizaki (um dos mais importantes do Japão) de 2001 por este livro.

     ***
    Missoshiru com shimeji e shiitake

     
    Ingredientes:
    1 1/2 de água
    1 pacote de shimeji
    1 pacote de shiitake
    1 pacote de tofu
    6 moti (bolinhos de arroz)
    1 pacote de hondashi (aproximadamente 10g)
    3 colheres de missô (pasta de soja)
    1 xícara de cebolinha picada
    Aji-no-moto e sal a gosto

     
    Modo de preparo:
    Ferva a água, acrescente o missô e o hondashi, mexendo bem para dissolver o missô. Corte o shiitake em tiras...


    ... e separe os ramos do shimeji, colocando-os em seguida no caldo. Acrescente também o tofu cortado em cubos e a cebolinha picada. Por último, o moti cortado em pedaços. Se achar necessário, acrescente Aji-no-moto e sal.


    Observações:

    1. O shimeji e o shiitake foram comprados em um Pão de Açúcar; gosto da marca Nayumi (ver site), porque a qualidade dos cogumelos é boa, mas acho que eles não são distribuídos fora de São Paulo. O tofu foi comprado em uma loja de produtos orientais. O missô caseiro e o hondashi foram doados pela minha mãe, mas são facilmente encontrados no Pão de Açúcar ou lojas de produtos orientais. O moti caseiro também foi doado pela minha mãe, que comprou um pacote com 12 unidades na feira de domingo em uma banca cujos donos são descendentes de japoneses - mas isso tem para comprar em lojas de produtos orientais. Se estiver em São Paulo, recomendo a loja Marukai, que fica na rua Galvão Bueno, perto da estação de metrô Liberdade.

    2. Creio que a principal forma de se comer moti seja assando-o em uma frigideira, em fogo baixo, e depois misturando-o ao molho com shoyu, açúcar e Aji-no-moto. Eu cresci comendo isso:



    3. A editora Estação Liberdade também publicou o livro Quinquilharias Nakano, da mesma autora, em 2010 e eu quero ler!

    4. Este post não foi patrocinado. Não falo bem do que e de quem não gosto por dinheiro nem presentes.


  4. Gourmet, comida japonesa em HQ

    terça-feira, 27 de novembro de 2012

     Sobrecapa

    Capa

    Título: Gourmet
    Título original: Kodoku no Gurume
    Autores: Jiro Taniguchi (texto) e Masayuki Qusumi (desenhos) 
    Tradutora: Drik Sada
    Editora: Conrad (ver site)
    Número de páginas: 200
    Ano de publicação no Brasil: 2009
    ***
    "... e eu estou é com muita fome." Assim começa a narração do protagonista da HQ Gourmet, termo muitas vezes associado a comidas refinadas (e caras), mas, dentro da obra, tem a ver simplesmente com o prazer que uma boa comida proporciona.


    Ao longo dos dezoito capítulos, pouco descobrimos sobre o protagonista, além do fato de ele ser um comerciante ou negociante que faz muitos trabalhos externos, por isso, muitas vezes, não tem horário nem lugar certo para comer. Então, acompanhamos seus passos por Tóquio e redondezas, onde ele entra em diferentes tipos de restaurantes, em uma loja de conveniência e em uma barraca de rua e pede os pratos que está com vontade de comer naquele determinado dia, descrevendo-os. A combinação de HQ e comida é perfeita.

     Mamekan (gelatina de alga + grãos de feijão kuromame + calda de açúcar de cana)


    Algumas outras comidas que parecem muito boas apresentadas (e devoradas) pelo protagonista:

    Vienna Curry

    Gyoza (pastel de carne de porco, geralmente cozido no vapor)


    Conforme o protagonista anda pelas ruas, podemos ler seus pensamentos e observações sobre o cotidiano japonês. Uma de suas falas resume mais ou menos o que ele pensa e sente sobre o ato de comer:


    Apenas em três momentos podemos vislumbrar detalhes de sua vida pessoal: quando o protagonista pensa em vender jaquetas de couro e lembra de quando estava com sua ex-namorada, uma atriz japonesa promissora, em Paris, e ambos se separaram, pouco antes de comer yakimanju (bolinhos assados com ou sem recheio de doce de feijão, enfileirados no espeto); quando vai a um jogo de beisebol, pois seu sobrinho está jogando (onde come o "Vienna Curry" da ilustração acima e quase morre de calor, pois o dia já estava quente - o curry tem um sabor apimentado) e quando vai à ilha Enoshima e se lembra de uma outra ex-namorada com quem fora lá pela primeira vez havia muitos anos - e depois vai comer manju (bolinho assado com recheio de anko, doce de feijão).

    Duas curiosidades: 1. o protagonista não bebe e isso às vezes o constrange em alguns locais, pois é comum os clientes japoneses pedirem algum tipo de bebida alcóolica enquanto aguardam a comida e 2. ele fuma. Nunca entendi pessoas que fumam, principalmente depois de uma boa refeição.
    Para quem não tem familiaridade com nomes de pratos da culinária japonesa, as duas últimas páginas da HQ apresentam um glossário dos pratos da HQ e seus principais ingredientes.

    A HQ termina com o protagonista fazendo uma boa refeição, o que pode deixar alguns leitores com uma vontade louca de fechar o livro e correr para um restaurante japonês.
    Obs: obrigada, Sergio, pela indicação desta HQ!
    ***
    Mamekan
    Tentei fazer o mamekan de forma adaptada, mas não ficou bom. Na receita original são utilizados: kanten (gelatina de alga), um tipo de feijão chamado kuromame (procurei, mas não achei para comprar) e calda de açúcar de cana. Utilizei: kanten, feijão azuki e, para a calda, fervi caldo de cana até engrossar:



    Não gostei da combinação kanten + feijão. Mesmo se tivesse o kuromame disponível, não acredito que o gosto seria muito melhor. Então, abaixo, fiz uma versão melhorada do mamekan, que ficou bem melhor!

    Ingredientes:
    1 pacotinho de kanten (5g)
    1 copo americano de açúcar
    frutas picadas a gosto (usei pitaia, kiwi, morango, uva e cereja e abacaxi em calda)
    leite condensado a gosto

    Modo de preparo:
    Prepare o kanten conforme instruções da embalagem, acrescentando o açúcar e, quando estiver pronto, corte em cubos. Detalhe: esse tipo de gelatina não precisa necessariamente ir para a geladeira para ficar consistente, pode ser deixada ao ar livre até endurecer.

    Pique as frutas, junte aos cubos de kanten e cubra tudo com leite condensado a gosto.

    Também fiz uma versão com mel, em vez de leite condensado, que ficou boa:


    Essas são duas marcas de kanten que já comprei e são boas (são encontradas em supermercados e lojas de produtos orientais):



    ***

    Sobá

    Este prato, apesar de não estar na HQ, é deliciosa e gostaria de compartilhar.
    A Yuri que preparou e fiquei de assistente.

    Ingredientes:
    1 pacote de macarrão próprio para sobá
    1,5 litro de água fervente
    500g de frango cortado em cubos
    5 colheres (sopa) de shoyu
    konbu em pó ou hondashi a gosto
    1 pacote de shiitake
    tikuwa (massa de peixe) fatiado
    omeletes com um pouco de açúcar, Aji-no-moto e sal picadas em tiras
    gengibre ralado
    cebolinha picada
    alga salgada e frita em folhas

    Macarrão escorrido, ovos cortados em tiras, tikuwa, alga em folha e gengibre

    Usamos esta marca de alga coreana:
     
    Modo de preparo:
    Cozinhe o macarrão conforme instruções da embalagem. Ao mesmo tempo, ferva a água, acrescente os cubos de frango e o konbu/hondashi, até que o frango esteja cozido. Depois, acrescente o shoyu, o shiitake cortado em tiras e a cebolinha picada. Cozinhar por mais alguns minutos.

    O macarrão ficará pronto antes do caldo, escorra e reserve.
     Caldo para sobá
    Corte o tikuwa.



    Frite os ovos (em forma de omelete, com um pouco de açúcar, Aji-no-moto e sal) e corte em tiras finas, com mais ou menos 2 cm de comprimento):




    Rale o gengibre.


    E agora é só montar o prato:

    Em uma cumbuca ou tchawan (cumbuca japonesa), coloque o macarrão.


    Acrescente o molho.


    Acrescente o tikuwa, o ovo, o gengibre e a alga e... tcharam! :)



     ***
     Bônus: Saquerinha
    For hard times, saquerinha time!

    Ingredientes:
    fruta(s) lavada(s) e picada(s) a gosto
    saquê
    açúcar a gosto
    gelo



    Modo de preparo:
    Pique a(s) fruta(s) escolhida(s), coloque a quantidade desejada em um copo, acrescente açúcar a gosto, soque as frutas com um socador. Acrescente cerca de dois dedos de saquê, misture e acrescente pedras de gelo.

    Algumas saquerinhas que já preparei:

    Saquerinha de uva

     Saquerinha de morango

    Saquerinha de lichia

    Saquerinha de melancia

    Saquerinha de kiwi e morango

    Kampai! Saúde!